17 de nov. de 2009

No Limite de 1808

Terminei "Quando Nietzche Chorou" (tema para quando estiver em São Tomé das Letras de novo) e comecei 1808.
Laurentino Gomes descreve com uma fascinante riqueza de detalhes toda a saga da família real portuguesa para chegar à colônia. Tudo muito bem escrito e pesquisado.
O livro contém fatos históricos importantes para entendermos como este país se formou, mas quero falar sobre um episódio que me tocou profundamente e que me fez refletir horas e horas: a viagem para o Brasil.
Era muita gente! Cerca de 6000 pessoas, entre a família real, a corte e pobres mortais, divididos em navios com aproximadamente 130 metros de comprimento cada. Alguns navios, segundo o autor, continham 800 pessoas a bordo. Assim, já dá pra tentar imaginar que este deveria ter sido o primeiro programa No Limite da história mundial.
Faltou bebida, faltou comida. Não havia banheiro, não havia ventilador. As mulheres não trocavam de vestido, pois muitas perderam sua bagagem na pressa de embarcar. Piolhos, carrapatos, vermes. Crianças chorando, mulheres parindo, homens que não se lavavam. Não há luz, não há camas, não há remédios e muito menos médicos.
Foram dois meses em alto mar, saindo do inverno do hemisfério norte e caindo em terras quentes brasileiras. Primeiro em Salvador, depois no Rio de Janeiro.
Tudo bem que ter ficado em Portugal poderia ter trazido problemas maiores à monarquia, uma vez que as tropas de Napoleão se aproximavam. Mas colocar toda a família real em embarcações precárias para atravessar o mundo... onde estavam com a cabeça?
Pensei em porcos, em cheiro de esgoto, em crianças remelentas, em ratos e baratas, em fome, em sede, em miséria... miséria? Além das pessoas da corte, as jóias da corte estavam a bordo também, mas não poderiam valer alguma coisa neste momento. Todos se misturavam, a rainha com as prostitutas, o príncipe com os escravos.
Impossível não ficar imaginando as coisas que aconteciam nesta aventura real, literalmente real.

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