12 de jun. de 2009

Fábula do dia dos namorados

Michele estava muito triste. Era o terceiro dia dos namorados sem namorado. Bateu uma mistura de sentimentos: raiva por estar sozinha, desesperançosa porque o tempo está passando, inveja das amigas felizes. O baixo-astral realmente tomava conta de Michele.
Sem muita vontade, precisava ir ao supermercado. Aproveitou a ponte do feriado e foi a pé, ouvindo seu iPod, até o shopping. Andou um pouco pelos corredores, mas acabou por se sentir mal. Por onde olhava encontrava casais sorridentes, escolhendo seus presentes. Ou rapazes lindos, com sacolas gigantes, com cara de apaixonados.
A raiva era cada vez maior e Michele resolveu acabar logo com aquele passeio ridículo. Entrou no supermercado e comprou o que precisava. Já estava se lamentando por ter que passar por dentro do shopping para sair.
No corredor, um homem a parou. Ela olhou bem para aquele moço bonito, com um sorriso encantador, e não conseguiu emitir nada mais que um mal educado 'pois não'. Sem levar o mau humor de Michele em consideração, o rapaz perguntou se ela estava muito ocupada.
- Não, não estou!
- Ah, será que eu poso te pedir um favor?
- Ok.
- Bem, você está com seu namorado por aí? Ou veio ao shopping comprar um presente para o sortudo?
- Nem uma coisa e nem outra. Não tenho namorado. E é melhor você falar logo o que quer antes que eu comece a latir.
- Calma, calma. Queria que você me ajudasse a escolher um presente para a minha namorada.
No fundo, Michele sabia que aquilo iria contribuir para piorar o seu estado de espírito, mas resolveu ser solidária. Afinal, ninguém tem culpa por ela estar sozinha.
- Tudo bem, eu te ajudo. O que quer comprar?
- Ah, estava pensando em um vestido. Ela tem o corpo parecido com o seu. Eu encontrei um muito bonito na loja do final deste corredor. Você pode experimentá-lo?
- Claro - Michele tentou sorrir, mas estava extremamente sem graça.
Caminharam lado a lado, apenas falando sobre amenidades: o dia chuvoso, o record de congestionamento da semana e o frio que tem feito em São Paulo. Entraram na loja e o moço escolheu o vestido. Realmente ele tinha muito bom gosto e Michele já estava até animada. Afinal, poderia ajudar alguém e isso estava dissolvendo a sua raiva.
A vendedora entregou o vestido à Michele, que ficou impressionada quando o vestiu: era perfeito! Ficou deslumbrante. Michele rodopiou no provador, como uma artista de cinema, sorrindo sem motivo, feliz por este pequeno prazer. Abriu a porta do provador e encontrou os olhos do moço, que não saíam da fenda e do decote bonito do vestido.
- Por favor, dê uma voltinha.
Michele sorriu envergonhada e virou. Estava se sentindo linda e desejada. Mas logo se desanimou ao lembrar que aquilo não era para ela.
- Ok, posso tirar agora?
- Claro, pode.
Michele entrou no provador, sentou na cadeira e desabou. Chorava copiosamente enquanto se olhava no espelho e tentava entender o que havia de errado com ela. Não conseguia ter forças para tirar o vestido. A tristeza aumentava, teve vontade de rasgar o vestido e sair correndo dali.
- Moça, tá tudo bem aí?
- Sim, já estou saindo.
Enxugou as lágrimas, tirou o vestido e, quando saiu do provador, já não conseguiu esconder a tristeza. Entregou o vestido ao rapaz e disse:
- Parabéns pela escolha. Sua namorada vai ficar muito feliz. A gente se vê.
- Ei, espere. Gostaria de tomar um café com você, em retribuição ao favor que você me fez. Você aceita?
- Olha, desculpe. Não sou uma boa companhia agora.
- Por favor, eu insisto.
O rapaz pediu para a vendedora embrulhar o vestido, pagou e saiu da loja com Michele abatida, amuada.
- Nem perguntei seu nome. O meu é Diogo e o seu?
- Michele.
- Então vamos, Michele.
Sentaram no quiosque do café e pediram a bebida. Não conversaram muito e Diogo pediu licença, precisava ir ao banheiro. Michele continuou sentada, com o olhar perdido. Tempos depois se deu conta de que 10 minutos se passaram e Diogo não havia voltado.
Levantou, foi até o caixa e perguntou quanto devia pelo café. A vendedora informou que Diogo já havia pago.
-Ah, obrigada.
- Espere, moça.
Michele virou de volta para o caixa e a vendedora entregou a ela uma sacola. Era a mesma do vestido. Parece que Diogo havia esquecido o embrulho lá.
- O rapaz que estava com você na mesa pediu para te entregar. Tem um bilhete prá você aí dentro.
- Tá bom, obrigada outra vez.
- De nada, boa sorte.
Com a sacola na mão, Michele caminhou lentamente até um banco. Olhos ao redor e não viu Diogo em lugar nenhum. Abriu a sacola do vestido, procurando pelo bilhete que a mulher do café havia falado. E encontrou um cartão de visitas de Diogo. No verso do cartão, escrito pelo próprio Diogo:
"Por favor, coloque este vestido hoje à noite e ligue para o número que está na parte da frente do cartão. Eu te pego onde você estiver e vamos passar juntos o dia dos namorados."

Um comentário:

Raphael disse...

uau .. que historia
adorei
bjs
Rapha